sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tudo Pode Dar Certo

Foi um senhor que me vendeu o ingresso para o filme Tudo Pode Dar Certo no Shopping Novo Batel em Curitiba. Diferente das grandes redes de cinema como Cinemark, Playarte e Unibanco Arteplex (tendo São Paulo como referência) que usam jovens no atendimento para agradar ao público, usualmente também jovem, o Cineplex Batel me pareceu ser de outra qualidade, observação ratificada quando o senhor pediu que sua filha passasse meu cartão de débito. Tratava-se de um clima mais familiar, pela sala antiga, poltronas de couro e presença do som característico do projetor. Tudo dentro do contexto, pois Woody Allen, roteirista e diretor do filme, integra o hall dos velhos mestres do cinema americano (inclusive mantendo o costume de exibir os créditos antes do filme começar).
Tudo Pode Dar Certo traz Larry David, co-criador e principal roteirista de um dos mais reconhecidos seriados americanos, Seinfeld, como protagonista. David consegue incorporar tão bem o típico papel do neurótico, pessimista, egocêntrico e frustrado que Allen desempenha quando atua em seus próprios filmes, que parece até uma caricatura de Woody Allen. A diferença é que Boris, personagem de David, extrapola na insensibilidade e vigor, coisa que o tipo franzino e desastrado de Allen, por nos despertar uma espécie de compaixão e simpatia, jamais poderia expressar.
Resumidamente, Boris Yellnikoff é um velho amargurado quase Prêmio Nobel que ganha a vida ensinando xadrez para crianças com as quais não tem a menor paciência. Passa o resto do tempo isolado em casa, ouvindo música clássica e reclamando do mundo para seus amigos e acredita ser o único capaz de compreender a insignificância das aspirações humanas e o caos do universo. Um dia, ele é abordado por Melody (Evan Rachel Wood), uma interiorana adolescente e desmiolada que lhe implora ajuda pois está sozinha e faminta. Contrariado, Boris permite que ela fique no apartamento por alguns dias. Ela se instala e, com o passar do tempo, não aparenta ter planos de deixar o local. Até que um dia ela diz que está interessada nele.
Tudo Pode Dar Certo é um apanhado geral da carreira do diretor, no melhor estilo ácido e sarcástico que o consagrou. Um filme que busca respostas para as arbitrariedades das relações humanas (há quem diga até sobre a vida pessoal do próprio Allen, que trocou a esposa pela enteada), sobre os efeitos da frustração, sobre a dogmática sociedade americana e, sobretudo, sobre as aspirações ilusórias e românticas do ser pela realização dos sonhos, quando, diante deste universo caótico e aleatório, o que nos resta mesmo é nos contentar com "o que quer que funcione", daí o título original, Whatever Works.
Na trilha, duas cancões brasileiras, Menina Flor e Desafinado, versões do jazzista Charlie Byrd e a criativa utilização da 5ª Sinfonia de L. V. Beethoven no ponto de virada da trama.

Um comentário:

Thiago Lucio disse...

Não consegui sacar se realmente gostou, embora vc tenha identificado as características do cinema de Allen que tanto gosta. Parece que ficou num meio termo. Quero ver este aqui, mas devo confessar que muito mais pela Wood do que pelo Allen. Ela é uma atriz subestimada e muito talentosa. Merece mais espaço e reconhecimento.