sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Partida

Que horas tão boas são estas últimas antes da partida. Horas que antecedem o fim da tarde que vai vagarosa de encontro com a noite a despertar. Ah, já sou todo saudade antes da despedida da bonita Curitiba que me dá mesmo essa sensação de estar sempre debaixo de olhos queridos e cuidadosos. Volto à rotina com o coração leve, como que aproveitado cada segundo da paz oferecida, como que um plano cumprido. Precisava sobretudo transparecer, aliviar o fardo, pensar e dizer. Ao redor dos pensamentos, lembranças flutuavam irretocáveis de um passado recente que ainda fazem latejar este doloroso coração. Ah, se Curitiba fosse uma praça na esquina de casa de onde pudesse, só de olhá-la pela janela, visitar todas aquelas sensações que reviveram meu coração! Que fosse um daqueles quadros que a gente não consegue entender como, em tão pouco espaço, há tanta beleza. Mas Curitiba não é nada disso porque ela respira e vive. Se Curitiba pudesse ser, seria uma garota de olhos pequeninos que com seu sorriso fácil faria brotar tantos outros sorrisos fáceis e, com seus cabelos vermelhos, marcariam como fogo a memória de quem cruzasse seu caminho. Não seria esguia, nem pequena demais, a maçãzinha de Truffaut: do tamanho ideal de um abraço apertado e graciosa, como só quem é inocente de sua própria graciosidade poderia ser. Que se protege nos primeiros olhares, distante e fria, mas quando vencida a desconfiança, aqueceria por dois numa manhã fria de inverno. Como a beleza de Curitiba está em qualquer lugar que se vá, a garota seria bela em todas as ocasiões e em todos os vestidos (até os breguinhas), dirigindo insegura ou se desculpando por isso, despertando ou dormindo, conversando ou só observando, rindo ou chorando (e ela teria esse impulso feminino à flor da pele), ficando ou indo. É preciso ter cuidado após visitar Curitiba, porque, depois dela, todas as outras cidades poderão ser menos, só lugares-comuns.
Se Curitiba pudesse ser, seria uma garota inesquecível para garotos esquecíveis como eu.

5 comentários:

Raphael M. Motta disse...

Eu sinto isso aqui... por isso me apaixonei pela cidade.

Boing disse...

ai ai ♥

lindo andré! =)

Alexandre disse...

Belo texto, meu querido!

São poucos os lugares que despertam essa paixão - e são poucos os que sabem escrevê-la!

Abração

Ester disse...

Droga, quero ir pra Curitiba agora...!

André Sant'Anna disse...

Minha dica é que, se alguém não conhece Curitiba, deve ir logo. Gasta-se pouco e vê-se coisas muito bonitas. Não tem essa loucura de São Paulo, apesar de ser uma cidade "grande". Já sobre o texto, fico muito feliz que vocês gostaram =)