quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Máquina de Escrever

No mês que se finda, decidi tirar a máquina de escrever do armário para escrever cartas. Foi uma forma de me fazer escrever alguma coisa para pessoas que estão fora do meu alcance, seja espacial ou temporalmente (pessoas que não falo há tempos). Além do que, carta, para mim, tem um sentido todo especial, independente de quem seja o destinatário. É preciso empregar um tempo razoável para a tarefa. Mais do que isso, pensar a respeito. Pensar porque, com a máquina, não se pode voltar atrás na palavra escrita. É preciso estruturar o parágrafo inteiro antes de colocá-lo no papel e acredite, não é fácil (como exercício, propus sequer revisar as cartas). Acostumado com o computador onde é possível editar e reestruturar o texto, lidar com algo tão "rústico" me trouxe uma sensação há muito não experimentada de que escrever é um trabalho artesanal. É um trabalho manual, de atenção, de carinho com a próxima palavra, de assistir de perto uma gênese. Nesse sentido, é como se o computador fosse uma ferramenta artificial de criação onde não é possível observar a transformação do movimento mecânico da máquina numa idéia. Perde-se o vínculo entre a construção e os sentidos que é, de certo, fundamental para o aprimoramento do artesão. Da ponta dos dedos nas teclas pesadas aos ombros curvados e olhos atentos, o andar do rolo, a audição dos ruídos característicos, entre outras especialidades que fazem do processo algo sensível, vivo, quase tátil. E não é justamente isso o que se pretende, ao meu ver, propiciar ao leitor?